CHEGADA

Soube no cheiro,
Antes mesmo de tampar
Meu olho, que era você.

Despido dos nomes,
Amor ou cupido,
Anterior, afim.

Seu olhar,
Morada do corpo,
Verde-azuis segredos,
Camaleão do sim
Piscando pirilampos.

O coração e suas vontades próprias,
Dando banda, folia e rasteira,
Dizendo que não sou dona de mim.

PIXAÇÃO

Escrevo seu nome a sangue
Nos muros de cal do mundo.
Escorre dos dedos mudo:
Não, não me diga adeus.

Nos brancos muros do mundo,
Cal e sangue seu nome,
Marco passagem e mudo
De cidade, bares, lugares.

Mas não mudam-se os tempos,
Nem apagam-se as vontades.

NAMORO

O devir de si mesmo no outro
É estado parasita do corpo:
Narciso que acha feio
O que não é espelho.


Se doa flores,
Bouquet são
flores mortas,
Não existe amor,
Não sente rosas.

Se oferece anel,
Não apregoa
Em conquistas das
Ciências,das Artes,
Da civilização moderna,
Não lapida metais.

Se sofre dor,
Obscura cisnes,
Descabela,
Péla e
Não é dores.

Mas, antes,
Não samba,
Compartilha surtos,
Buraco negro,
Acaso e vão.




GRAFITAGEM

Meu olhar escreve, descreve
E insere meu nome
Na auto-etnografia do seu corpo.

Meu olhar tateia, chicoteia
E circunscreve meu gosto
Na superfície de sua pele.

Meu olhar vigia, ora
E mora meu gesto
Na tessitura de seu colo.

Meu olhar revira
Vasculha
Trapaça
E disfarça.

Meu olhar arranha, tatua
E rasura bordado enamorado
Em seu estado de corpo.