PAUSA

                                                                                 (Para Alexandre Faria)

Hei de escrever, no silêncio de todos os batuques,
Sambas marcados no primeiro,terceiro,
No segundo e no quarto tempo.

Hei de escrever com silêncio todas as semibreves,
Mínimas de todas as semínimas,
Colcheias de tantas semicolcheias,
Fusas tontas de muitas semifusas.

Hei de escrever sob silêncio de todo canto
Posto da voz às mãos sobre a mesa,
Desafinadas notas afinadas de tão tortas,
Uníssono dissonante em si
Lá sabe quando dará o tempo agora,


De um gesto que arromba a vida
Atravessa o verso do cotidiano
E faz do amor propósito do desejo.

CORRERIA

Em terra de Saci,
Quem tem uma perna só
Pode até dar voadora.
Mas quem não pode com mandinga
É que não carrega patuá.

Apesar de ser azeda,
Doce quando doce,
Não tenho no nome açucar
Pra ficar me degustando,
Nem tônica pra conversa,
Nem métrica pra poema,
Nem peso pra microfone,
Nem morada pra sua mente.

Império de sal,
Meu gosto é caos,
Língua afiada,quebranto
E repente mandando letra.

Pára o pensamento se passar na minha frente,
Trava os pés no chão pra não ser levado pela correnteza.
Porque feitiço é só pra quem não tem cabeça feita,
Nem malandragem com despacho na encruzilhada.

Sou que nem cabeça d'água,
Navalha afiada na brasa,
Trator em beira de estrada,
Dedo apontado na cara,
Tempestade bebida no gole,
Tufão desgovernado escancarando a porta.

Quero ver chegar como cheguei
Fazer como eu fiz
Ficar como fiquei
Seguir como segui
E ser o "X".

Do chão me levantei,
Das cinzas ressurgi.
Seta solta a riscar ar,
Ventania, revoada
Na missão desesperada
Desse pra sempre caminhar.